quinta-feira, 25 de junho de 2015

O problema das ilhas de calor

Produzidas pelo calor e pela poluição, as ilhas de calor causam diferença entre entre a temperatura do centro e a do entorno


Com os dados do último Censo demográfico de 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calculou em mais de 84% a taxa de urbanização do País. Em 1940, a taxa correspondia a 31% e, 30 anos depois, em 1970, era de quase 56%. A evolução dessa taxa mostra que as cidades brasileiras vêm crescendo e expandindo suas áreas urbanas. O crescimento das cidades geralmente ocorre em detrimento das áreas vegetadas. São parcelas agrícolas, sítios, pastagens ou florestas que são substituídos por novos loteamentos, vias de circulação, zonas industriais ou, ainda, pela ocupação espontânea das favelas. 
 
Dessa maneira, toda cidade, quando se expande, altera a cobertura do solo, isto é, o solo onde antes havia vegetação passa a ser recoberto pelos diferentes tipos de materiais usados na construção civil. Muitas consequências derivam dessa alteração. Uma delas é facilmente sentida pelo citadino: a ilha de calor que se manifesta pela diferença de temperatura entre o centro da cidade, mais quente, e seu entorno, mais fresco.
 
A maior cidade do País é um exemplo representativo do processo de crescimento, já que possui uma mancha urbana enorme. Pesquisadores apontam que, em 1965, São Paulo e seus municípios vizinhos contavam com 744 quilômetros quadrados de área urbana. Cálculos feitos em 2010, a partir de imagens de satélite, apontam áreas urbanas espalhadas por, aproximadamente, 80 quilômetros no sentido leste-oeste e 40 quilômetros no sentido norte-sul, que recobrem um espaço superior a 1,9 mil quilômetros quadrados. Nesse gigantismo, áreas urbanas de vários municípios encontram-se conurbadas e abrigam uma população superior a 19 milhões de pessoas. Exemplo de outra região do País, a cidade de Manaus também teve um crescimento significativo. Em 1973, a área urbana era de 91 quilômetros quadrados e, em 2008, de 242. Ela acolhe hoje, segundo estimativa do IBGE, uma população superior a 2 milhões de habitantes.
 
A ilha de calor urbano pode ser resumida sucintamente como o resultado acumulativo de alterações na cobertura do solo e na composição da atmosfera, devido ao desenvolvimento urbano e às atividades humanas. É, portanto, exemplo evidente de uma mudança climática de origem antrópica. Mas como isso acontece?
 
As alterações da cobertura do solo provocadas pela expansão das cidades transformam o balanço de radiação local (veja o quadro). Toda superfície tem a propriedade de refletir, absorver ou transmitir a radiação solar. Ao refletir a radiação, a superfície devolve para a atmosfera a energia incidente. Ao absorver, a energia acumulada estimula uma movimentação molecular que gera o calor que será irradiado. Já nas superfícies transparentes, a energia é transmitida de um meio para o outro. A interação da energia com os diferentes tipos de superfície ocorre segundo os parâmetros físicos dos materiais, favorecendo ora a reflexão da radiação solar, ora a absorção, ora a transmissão. A fração da radiação solar refletida por uma superfície é quantificada pelo albedo (veja o quadro). De um modo geral, as superfícies escuras absorvem a energia e as claras refletem. O asfalto, por exemplo, absorve a energia refletida e se aquece. Uma superfície gramada, ao contrário, reflete mais que absorve.
 
As superfícies urbanas são mais quentes e secas que as superfícies vegetadas. O calor é, evidentemente, o principal ingrediente da ilha de calor urbano, mas não é o único. A secura e a poluição da atmosfera são outros fatores que contribuem para a sua formação.
Nesse fenômeno, o calor provém do aumento da absorção da radiação solar promovido pelos materiais usados em edificações e pavimentações de vias, como cimento, concreto e asfalto, que absorvem a radiação solar e se aquecem. Além de reter o calor, as superfícies urbanas também são secas, porque nas cidades o revestimento do solo é impermeável. Ou seja, a água da chuva não penetra no solo e escoa diretamente para as canalizações. A secura da atmosfera urbana também deriva da falta, nesse espaço, de áreas vegetadas e corpos hídricos. Esses fatos reduzem a evaporação, o que, além de diminuir a quantidade de vapor d’água na atmosfera, deixa energia sobrando no sistema para aquecer ainda mais o ar.
 
As atividades industriais e a intensa circulação de automóveis, ônibus e caminhões também geram uma produção adicional de calor provocada pelos processos de combustão. Esses processos lançam partículas finas na atmosfera, intensificando a poluição do ar e o efeito estufa, que, por sua vez, dificulta a circulação do ar e a dispersão dos poluentes. A cidade possui ainda uma rugosidade, isto é, a presença de edificações. Isso reduz a velocidade média dos ventos, diminuindo a troca de ar entre a cidade quente e as áreas circundantes mais frescas.
 
A diferença entre a temperatura das áreas urbanas, densamente construídas e de tráfego intenso, e a das áreas do entorno, menos densas e mais vegetadas, pode chegar a valores superiores a 10ºC, como apontam as pesquisas sobre São Paulo. Em Manaus, essa diferença é superior a 3ºC em alguns meses do ano. Constatou-se também que, nos últimos 75 anos, a temperatura média de São Paulo ficou 2ºC mais quente. A mesma tendência foi verificada em Manaus: entre 1961 e 2010, a temperatura média da cidade aumentou 0,7ºC.
Pelo mundo, as pesquisas demonstram que a ilha de calor é frequente em cidades grandes e médias. No Brasil, grandes cidades como São Paulo e Manaus, usadas como exemplos neste texto, além de Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Belém e cidades médias como Presidente Prudente, Catanduva, Londrina, Cuiabá e Araçatuba, entre outras, já tiveram suas ilhas de calor estudadas. Nas regiões tropicais, a ilha de calor torna-se um problema evidente de conforto térmico e também econômico, pois provoca a necessidade de refrigerar os ambientes, aumentando o consumo de energia. 
 
Já nas regiões temperadas e frias, a ilha de calor pode vir a ser uma vantagem que contribui para o menor consumo de energia no aquecimento dos ambientes durante o inverno. No entanto, mesmo nessas regiões, a ilha de calor pode ser uma desvantagem no verão se houver intensa necessidade de resfriar os ambientes, fazendo com que a economia feita no inverno seja amplamente ultrapassada no verão. É o caso da cidade de Nova York.
 
Para mitigar os efeitos da ilha de calor, os cientistas são unânimes: é necessário modificar o albedo das superfícies urbanas. Uma medida simples e eficiente é ampliar as áreas permeáveis com vegetação. Plantar árvores, recuperar bosques de vegetação nativa, lagos, criar parques, jardins e aumentar as superfícies hídricas são algumas das ações citadas. O plantio de árvores é essencial no processo de resfriamento da atmosfera urbana, pois auxilia no sombreamento das superfícies, reduzindo seu aquecimento, contribui na filtragem da poluição do ar, na redução da sonora, na criação de hábitats etc. Ainda, as áreas vegetadas favorecem maior infiltração da água de chuva no solo, aumentando a evapotranspiração e, com isso, uma maior quantidade de vapor d’água na atmosfera (veja o quadro). Os materiais usados nas construções urbanas também devem ser escolhidos de acordo com suas propriedades de emissividade e reflectância. 
Outra medida que vem sendo aplicada em algumas cidades, inclusive no Brasil, é a construção dos telhados verdes. Neles, um solo artificial é construído, onde é cultivada uma vegetação específica, com plantas resistentes e de raízes superficiais, que diminuem o aquecimento dos telhados e melhoram o conforto térmico dos edifícios.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O LIXO, ESTADO E PROPRIEDADE. POR RAÚL ALVAREZ

http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=22112&cod_canal=41             
Lixo, Estado e propriedade. Entrevista com Raúl Alvarez

Advogado e licenciado em Ciências Políticas, Raúl Alvarez (foto) dedica boa parte de sua jornada à docência. Sua especialidade é a Teoria do Estado, mas a partir de uma perspectiva crítica, que questiona diretamente o direito de propriedade. Com essa bagagem começou a estudar o lixo, sua relação com o Estado e com a propriedade.  Chegou a esse tema antes do que pela sua inquietude acadêmica, por sua militância social, acompanhando uma organização territorial de José León Suárez, a área onde se localiza um dos aterros sanitários da Ceamse. O produto dessa pesquisa foi uma dissertação de mestrado que depois se tornou o livro “La basura es lo más rico que hay” (Dunken), recentemente publicado.
Eis a entrevista.
Como começou a pesquisa em que se baseia o seu livro “La basura es ló más rico que hay”?
Eu comecei no ano de 2005, como advogado, como militante, e fiquei cativado pelo assunto do lixo. Nesse momento, estava colaborando com a organização territorial Oito de Maio, que está diante do aterro da Ceamse, em José León Suárez. Eles estavam numa situação de conflito com a Ceamse, que havia proposto a instalação de um projeto de separação do lixo. Nesse momento, possuem uma grande desconfiança, pois apontam a Ceamse como o órgão estatal encarregado da repressão nestes lugares, era o inimigo. Eu os acompanhei e comecei a estudar para ver como redigir o convênio. Formulamos um projeto alternativo de convênio, e quando o propusemos à Ceamse, ela se negou sistematicamente em aceitar a cláusula em que se comprometeria a entregar o lixo proveniente dos geradores industriais. Então, eu me perguntei, “se é lixo, qual é o problema? Se eles vão aterrá-lo, por que não querem entregá-lo?” E isto é o que motiva a pesquisa.
Qual a relação entre o lixo e a estrutura da sociedade que o gera?
Uma sociedade que está dividida em classes sociais pela maior apropriação dos meios materiais, entre os que têm e os que não têm, é uma estrutura social que se replica invertida no terreno do lixo. A função do manejo do lixo é resguardar que aqueles que possuem maior propriedade de bens privados continuem conservando esta posição preferencial, inclusive no terreno daquilo que tem valor negativo. Então, se algo tem um valor negativo de mercado ou seu potencial de contaminação torna-lhe negativo, a estrutura social capitalista encaminha isto para o coletivo social. Assim como a sociedade se divide entre proprietários e não proprietários, entre exploradores e explorados, divide-se também entre poluidores e poluídos, entre “lixeiradores” e “lixeirados”. Então, parece-me que o assunto do lixo apresenta, no terreno negativo do valor, a mesma lógica de diferença classista que existe no terreno positivo do valor. Isto me permite reconectar a teoria do lixo, do meio ambiente e da contaminação ambiental, com a teoria crítica da propriedade, permite-me envolver com elementos marxistas a análise da ecologia. Há toda uma corrente de ecologia política que está tentando fazer isto.
A partir de sua investigação, que tipo de relação pode observar entre Estado, lixo e propriedade?
Há várias ideias, uma está ligada a pensar o Estado como uma instância de dominação de classes dentro da sociedade. Agora, como isto se manifesta no mundo do lixo? O Estado é o que absorve essas substâncias, esses materiais perdidos para o conjunto da sociedade e, em particular, para as empresas capitalistas. Então, o Estado funciona socializando as perdas. Aquilo que é lucrativo, a mercadoria, fica dentro do âmbito da propriedade privada, e o que é dano econômico ou ambiental é transferido para a esfera pública. É socializado, sendo deixado no meio ambiente: que é o conjunto da sociedade. Então, trata-se de privatizar lucros e socializar as perdas.
Em relação à propriedade, o direito de propriedade é a possibilidade que uma pessoa tem de excluir o outro do uso e gozo da coisa. O lixo funciona exatamente ao contrário, o lixo é a possibilidade de tornar todos os demais responsáveis por algo que traz danos. Se a propriedade é uma relação de apropriação de um objeto, o lixo é uma relação de desapropriação, é desligar-se e delegar ao coletivo social, por meio do Estado, as perdas que determinados objetos produzem.
No entanto, acontece uma disputa econômica em torno do lixo.
Porque é utilizado como um recurso de poder. A Ceamse, em particular, utiliza o lixo como um recurso para disciplinar os atores sociais que existem aqui no terreno. Porque o lixo em si não existe, o lixo é um fetiche, o que existe é uma quantidade de resíduos de matérias de diferentes tipos. Embora sejam resíduos, pois não se percebe que possuem valor em determinados níveis da sociedade, quando se vai baixando na escala social, o que foi descartado pelo nível superior, possui valor para os que estão abaixo. Por exemplo, uma roupa que alguém com muito dinheiro já mandou para o lixo, serve para mim; o mesmo acontece com outro tipo de produto, sobretudo alimentos. Então, o lixo que se supõe que carece de valor, quando se mescla com a divisão de classes de uma sociedade, para muitos setores sociais, sobretudo para os marginalizados, é um recurso de vida cotidiana.
Por que a Ceamse não queria entregar determinados produtos, como os industriais?
Acredito que um dos motivos é o de proteger alguns geradores privados. Concretamente, há empresas que produzem determinados tipos de resíduos alimentares que não aceitam que a Ceamse os coloquem em recuperação e, então, obriga que a mesma os enviem para o lixo. Nisto, a Ceamse está defendendo diretamente o direito de propriedade do gerador, direito de propriedade que já não está no uso e gozo do objeto, mas na proibição do uso e gozo dos demais. Ou seja, assegura, por exemplo, o direito de uma fábrica de cosméticos, propiciando que esses produtos que são descartados sejam encaminhados diretamente para o aterro, sem ser orientado para ninguém. Porque se os recicladores recolocam os produtos no mercado, entrarão em competição com seus produtos de linha. Além disso, o capital é regido pela lógica da escassez. Então, se você for lucrar com um resíduo que eu gerei, a lógica do capital diz “pague-me, se não eu o enterro”.
Além disso, você disse que o enterramento do lixo também está relacionado com a forma como é concebido.
Claro. O lixo funciona como uma espécie de poder normalizador: é lixo aquilo que fica excluído da ordem, aquilo que é o contrário do higiênico, do socialmente aceito. Então, o lixo vai para tudo o que tem status de exclusão, e forma uma construção imaginária de algo que se supõe infeccioso, gordurento, que adoece, que suja, que infringe a ordem do social. Porém, tudo isto é uma construção, não necessariamente quer dizer que o lixo possa produzir estes efeitos. Acontece que todos nós aprendemos a nos relacionarmos com o lixo desta maneira, todos nós internalizamos a ideia de lixo e desenvolvemos uma construção que é o nojo.
O nojo é algo aprendido, nós não temos naturalmente nojo do lixo. O nojo é o que permite que o fluxo do lixo continue sendo algo rejeitado. Na medida em que há catadores que fazem do lixo seu meio de vida, precisam superar esta fronteira, devem transgredir a linha do nojo, necessitam desfazer a ideia de lixo, porque, caso contrário, não poderiam abrir a sacola de lixo. Bem, ao atravessar esta fronteira, eles estão transgredindo uma norma socialmente aceita. Então, são castigados. São castigados com esta impregnação imaginária de que assim como o lixo é algo anti-higiênico, que suja e que deixa doente, os que lidam com o lixo também teriam esta mesma característica do lixo. Ou seja, que se nossa sociedade converte objetos em lixo, também faz isto com as pessoas que trabalham com ele.
A Ceamse é o dispositivo pelo qual isto se confirma, pelo qual tudo isso que mereceu o status de exclusão será enterrado. A Ceamse defende esta fronteira com vigor. Isto impede a recuperação de resíduos. Isto é um preconceito cultural, de ideia normalizadora do lixo, que impede o avanço na reciclagem. Caso se pense que isso é algo que somente suja, infecta e adoece, não se pode transformá-lo em materiais para reciclar. Caso não se recue da ideia que existe de lixo, não é possível mudar a conduta que temos como consumidores quando compramos, nem quando dispomos o lixo em nossa casa, nem quando o colocamos na rua.
Diferente do restante dos bairros do conurbado, que também conta com aterros sanitários da Ceamse, em José León Suárez não existe uma significativa contestação da vizinhança por questões ambientais. O aterro Norte III é o único com um contingente numeroso de catadores que diariamente acorrem ao lixão. Como acontece esta situação, em que a relação com o lixo não é de rejeição, mas de aceitação?
José León tem essa particularidade, é o único território da província de Buenos Aires em que não rejeitam o lixo, mas, pelo contrário, faz do lixo seu recurso. É uma população de origem social marginalizada, que vive do lixo. Todo este setor social quer continuar tendo acesso aos seus meios de trabalho, e todo o conflito acontece justamente para se ter acesso ao lixo, pois o problema existente é que a Ceamse regula, segura, controla e retira-lhes o acesso ao lixo, utilizando-o como um critério de prêmios e castigos. Àqueles que são mais conciliadores, concedem o melhor lixo, e aos menos conciliadores dão-lhes o pior. Aí, então, está o motivo de conflito. Em outros lugares predomina o conflito ambiental. Aqui, ao contrário, a pobreza tem tal nível que não permite perceber isso. Quando entrevistei o médico do centro de saúde da região, disse-me: “estão doentes, mas não se dão conta, porque são tão pobres que não examinam”. Então, a diferença é que em Villa Dominico, González Catán e Punta Lara, em primeiro lugar, surgem as reivindicações ambientais. Aqui, a reivindicação ambiental não apareceu, o que predomina é o conflito social em torno da apropriação do lixo. Em León Suárez o lixo é considerado um recurso, por isso os catadores lutam para terem o mais livremente possível acesso a esse material.
Em 2004 desaparece Diego Duarte (um jovem catador) no aterro sanitário de José León Suárez. A partir deste fato e da situação de conflito que foi gerada, a Ceamse inicia uma experiência inédita: as instalações sociais de reciclagem, que propicia a participação de várias organizações territoriais da região. Desde então, como se desenvolveu este empreendimento?
Desde 2004, foi ocorrendo uma mudança de tática da Ceamse, não de estratégia. A Ceamse é uma instituição criada pela ditadura, que tem sua marca de origem. Seu objetivo é enterrar resíduos, o que eles sabem fazer é enterrar lixo, existem para isso e querem avançar nesse sentido, e custa-lhes para aceitar toda outra modalidade de tratamento do lixo, que não seja enterrá-lo. Em 2004, a quantidade de catadores era muito alta, o conflito já não permitia que operassem o aterro, porque cortavam a estrada, impediam a entrada de caminhões, os catadores entravam clandestinamente no período noturno e estavam trabalhando todo o tempo.
Então, o presidente da Ceamse, desse momento, Carlos Hurst, empreendeu uma dupla tática. Por um lado, manteve a vigilância armada como uma forma de violência latente permanente, cuidando do lixo como se fosse um tesouro. Porém, sem tirar isso, empreendeu uma tarefa de negociação com pessoas de diferentes organizações territoriais ao redor, propondo montar instalações de reciclagem que fossem uma fonte de trabalho, para que ao invés das pessoas irem para o lixo, trabalhassem no projeto. E então montou o mais importante empreendimento de reciclagem de lixo que temos no país, porque aqui abrem a sacola de lixo para obter o material.
As instalações de reciclagem que existem na cidade de Buenos Aires podem ter maior volume, mas trabalham com material já separado, ao contrário, aqui trabalham com lixo sem a separação. Então, desta maneira foi montado este complexo de novas instalações de reciclagens sociais que empregam em torno de 600 pessoas. São experiências de cogestão entre o Estado e as organizações sociais. Era o Estado que até poucos anos era o inimigo no terreno, ou seja, uma experiência inovadora interessante porque, além disso, é uma experiência de cogestão com uma população marginalizada. Não existe a cultura de classe operária, que podem se organizar numa cooperativa, como nas fábricas recuperadas, mas são pessoas que vêm de formas de trabalho muito individuais, que não possuem mensalidade, que não tem horário, que não tem patrão, que precisam aprender a trabalhar numa linha de produção com horário, salário, autoridade. É um aprendizado importante o que precisam fazer.
Porém, nestas instalações sociais de reciclagem, apesar de ser um empreendimento tão importante em relação ao trabalho com o lixo, a porcentagem do que é reciclado é mínima (em volta de 2% do que entra no aterro). Por que isto acontece?
A porcentagem que será reciclada é definida pela Ceamse, esse é o poder discricionário que existe. No momento, as instalações não possuem mais capacidade de reciclagem. Para se reciclar mais teria que haver mais espaços, que não necessariamente precisem ser instalações como estas, com esteiras transportadoras iguais as dispostas pela Ceamse, poderiam ser barracões com gente trabalhando debaixo e nada mais, sendo muito mais barato. Esse era o projeto original dos catadores, simplesmente que lhes sejam dado o material. Com a finalidade de desfazer o conflito social, foi montado este polo de reciclagem, que demorou vários anos, equilibrando afinidades e dissidências, prêmios e castigos, entre os envolvidos na área.
Isto foi feito porque a Ceamse não pôde evitar que se fizesse, pois foi o critério para resolver a luta dos catadores. Porém, caso se buscasse avançar numa política ambiental de reciclagem, isto poderia ter sido feito de forma muito mais rápida, numa dimensão muito maior, com muito mais fluxo de material para os trabalhadores, para que possam reciclar muito mais. De qualquer forma, esta experiência do projeto de reciclagem gerou, entre os catadores, um ator social organizado, por sorte, montado por esta política da Ceamse. É um efeito não desejado, mas é um exemplo da mudança de relações de poder que as políticas populistas produzem. Porque, neste sentido, a partir do Estado estão baixando, verticalmente, uma medida que organiza os setores populares, que lhes dão um lugar na produção e de luta que é muito forte. Embora não questionem as relações capitalistas de produção, na verdade, as relações de forças no caminho mudaram substancialmente, e o poder de luta que existe é muito maior, sendo a experiência que fizeram muito avançada.
O sistema de aterro está em colapso, algo que está sendo evidenciando pelas denúncias de diferentes grupos da vizinhança e ambientalistas que pedem o fechamento da Ceamse.
E lógico, pois aumenta o consumo e junto aumenta o lixo, então colapsa. Além disso, isto está cruzado com o problema do colonialismo interno que temos, porque os aterros da Ceamse, espalhados pela província de Buenos Aires, só foi possível no contexto de uma ditadura. Nenhum governo democrático teria aceitado ser o lixeiro de outro distrito. Hoje, continuamos tendo isso como obstáculo. Há territórios que estão se sacrificando para sustentar outros em seus níveis de consumo. Parece-me que é preciso revisar isto, porque ninguém quer o lixo do outro.
Autor: Verônica Engler

domingo, 4 de setembro de 2011

O que tá acontecendo?




Aquecimento Global






Reviravoltas no cultivo de alimentos




O aquecimento global pode mudar padrões de produção de alimentos. 

A área de cultivo vai diminuir, principalmente nas latitudes médias e baixas, como as zonas tropicais e subtropicais do planeta, e haverá carência de grãos. As mudanças devem afetar grandes produtores, como a Austrália, Argentina, Brasil e regiões temperadas da Europa. 
Mas, os efeitos serão mais graves na África e na Ásia, onde vive grande parte das pessoas que se dedicam à agricultura de subsistência. Para piorar, a população é uma das pobres e com maior crescimento demográfico do mundo.

Um estudo realizado por pesquisadores da Unicamp e da Embrapa avalia o impacto do aquecimento global sobre a agricultura nacional. Eles calculam que o aumento da temperatura pode provocar uma diminuição das área aptas para o cultivo de grãos e maior pressã sobre a fronteira agrícola entre o Cerrado e a Amazônia. As regiões mais afetadas seraão o Sul, o Sudeste e o Nordeste. Com exceção da cana-de-açúcar e da mandioca, as outras culturas avaliadas ( algodão, arroz, feijão, girassol,milho e soja) podem sofrer queda de produção e migração para locais onde hoje não são cultivadas.

Os pesquisadores argumentam que isso só deverá ocorrer se nada for feito em termos de manejo e proteção do solo, práticas agrícolas mais eficientes e investimento em novas variedades de sementes e de ações voltadas para a redução das queimadas e do desmatamento.


Sal da Terra - Video


O papel dos combustíveis fósseis




Antes da Revolução Industrial, s atividades de produção e prestação de serviços baseavam-se no trabalho dos homens, complementado pela tração animal, pela utilização direta da força da água e do vento e pela queima da lenha e do carvão vegetal. a partir do século XIX, a lenha foi substituída pelo carvão mineral e, mais tarde, pelo petróleo. Essas duas fontes de energia, assim como o gás natural, são combustíveis fósseis formados pela decomposição de matéria orgânica, por meio de um processo de milhoões de anos.

No caso do carvão, trata-se da decomposição e da transformação de plantas mortas, cobertas por depósitos de terra e submetidas a altas pressões. Algas e outros seres microscópicos aquáticos foram soterrados e acabaram se transformando em petróleo. Nesse processo, a decomposição dos organismos também liberou o gás natural.  Relativamente abundantes e ricos em energia calórica, petróleo, carvão e gás foram essenciais para o desenvolvimento de nossa sociedade tecnológica. Mas, como fontes não renováveis ( materiasi não recompostos na natureza na mesma velocidade em que são consumidos), a tendência é se esgotar. Não bastasse isso, o seu uso polui o ambiente e contribui para o aquecimento global. Sem contar que o oxigênio usado na queima desses combustíveis também vem da atmosfera.

Não se espera que os combustíveis fósseis sejam substituídos por uma fonte única de energia, como se imagina. A proposta de uma " revolução energética global " implica no uso de várias alternativas e na redução do consumo.